
07 abr Borderline: Orientações para pacientes e familiares
Introdução
Os pacientes com transtorno de personalidade borderline (TPB) representam aproximadamente 20% dos pacientes internados e ambulatoriais. A maioria dos pacientes borderline começa a procurar ajuda por algum outro problema (por exemplo: depressão, queixas somáticas, autolesão, abuso de substâncias, insônia), no entanto, o construto da hipersensibilidade interpessoal explica a psicopatologia borderline e deve orientar suas intervenções.
As pessoas com TPB nascem com uma predisposição genética para serem altamente sensíveis e reativas aos seus cuidadores. Elas são mais suscetíveis a atribuir rejeição ou raiva ao comportamento parental do que outras crianças. Elas geralmente cresceram sentindo que foram tratadas de forma injusta e que não receberam a atenção ou o cuidado de que precisaram. Elas se ressentem disso e quando jovens adultos esperam estabelecer uma relação com alguém que possa desfazer o que lhes parece estar faltando. O relacionamento desejado é exclusivo, o que desencadeia reações intensas a deslizes, rejeições ou separações reais ou imaginadas. De forma previsível, tanto suas expectativas irreais quanto suas reações intensas fazem com que essas relações falhem. Quando isso acontece, as pessoas com TPB se sentem rejeitadas ou abandonadas e não conseguem resolver a raiva de terem sido tratadas injustamente e seus medos de que são ruins e de que merecem a rejeição. Ambas as conclusões podem fazer com que se tornem autodestrutivas. A raiva de terem sido maltratadas ou a vergonha de serem pessoas ruins ou dos seus comportamentos autolesivos podem provocar sentimentos de culpa ou de proteção aos outros. Essas respostas de culpa ou de proteção dos outros validam as vivências exageradamente negativas da pessoa borderline sobre o tratamento injusto, e sustentam suas expectativas altas e irreais de conseguirem satisfazer suas necessidades. Assim, o ciclo é suscetível a se repetir.
O diagnóstico do TPB oferece o contexto terapêutico e o contexto de desenvolvimento que os pacientes e familiares vivenciam como algo significativo e apropriado. Um conforto inicial é sentido pelos pacientes borderline quando descobrem que seus problemas são compartilhados com os outros, que o tratamento pode ajudar e que seu psiquiatra tem conhecimento grande e relevante para aplicar.
O que todo paciente borderline e sua família precisam saber
- O transtorno de personalidade borderline (TPB) é significativamente hereditário (~55%). Isso significa que as famílias precisam ajustar seus cuidados para acomodar as limitações que decorrem da predisposição genética do membro borderline da família
- O TPB é um transtorno muito sensível ao estresse ambiental, especialmente aos estressores interpessoais (raiva, rejeição) ou à falta de estrutura (inconsistente, imprevisível, ambígua). Isso significa que os pacientes se beneficiam de ambientes estruturados e suportivos.
- O cérebro de pessoas com TPB tem uma amígdala hiperreativa (facilmente excitada) e um córtex pré-frontal hipoativo (menos inibições cognitivas/reflexivas). Praticamente todas as terapias eficazes aumentam a atividade do córtex pré-frontal, insistindo no pensamento para avaliar as percepções e para controlar comportamentos e sentimentos.
- A maioria dos pacientes com TPB entra em remissão dos sintomas (cerca de 50% em dois anos, 85% em dez anos), e uma vez remitido, somente 15% recaem. Contudo, a melhora de sintomas é associada a melhoras apenas moderadas na adaptação social (isto é, só um terço estabelece casamentos estáveis ou emprego em regime integral ao longo de dez anos).
- Há várias formas empiricamente validadas para o tratamento do TPB. Todas diminuem a autoagressão, a raiva, a depressão e utilização de hospitais, prontos-socorros e de medicações. Esses tratamentos geralmente demandam 1-3 horas por semana durante um ano ou mais.
- A grande maioria de pacientes com TPB melhora significativamente sem receber essas terapias. O bom manejo clínico geralmente é suficiente. O tratamento com terapias intensivas específicas para o TPB deve ser procurado para pacientes que não respondam.
Fonte:
Gunderson, J. G.; Links, P. S., Manual do bom manejo clínico para transtorno de personalidade borderline: 1. ed. São Paulo : Editora Hogrefe, 2018