
29 jan Medicações psiquiátricas viciam?
Uma dúvida frequente no consultório, e um dos maiores motivos para evitar procurar ajuda psiquiátrica tem sido o receio de fazer uso de medicações psicotrópicas. Pelo menos uma pessoa do seu círculo de convivência próximo já teve ter dito para evitar esses “remédios que viciam”, mas será que é assim mesmo? A resposta não é tão simples, na verdade depende de qual medicação psiquiátrica estamos falando.
A classe de medicações mais usadas na psiquiatria é dos Antidepressivos, que tem vários mecanismos de ações diferentes e várias moléculas diferentes, sendo os mais comuns:
Fluoxetina, Sertralina, Escitalopram, Venlafaxina, Bupropiona, etc. esta classe de medicação nunca causa dependência, mas dependendo de cada caso o paciente pode precisar de uso por longos períodos ou até pela vida toda, mas não por efeito da medicação, mas pelo retorno de sintomas depressivos quando se faz o desmame da medicação, ou por algum diagnóstico de maior complexidade. Nestes casos, por culpa da doença psiquiátrica, a medicação se faz necessária, mas não é dependência.
Um exemplo comum para esses casos é que um hipertenso não é dependente de suas medicações hipotensoras, mas precisa delas para manter sua pressão arterial controlada.
Afinal, o que é dependência?
Vamos nos aprofundar no conceito de dependência para que não reste dúvidas, por definição, são medicações ou substâncias que levam a tolerância e na sua retirada causam síndrome de abstinência. Logo, são substâncias que com o passar do tempo precisam de doses cada vez maiores para fazer o mesmo efeito (Tolerância), e em uma eventual tentativa de suspensão abrupta o paciente passa mal, podendo variar desde mal-estar inespecífico à náuseas, vômitos, tremores e em casos extremos: convulsões (Sd. De Abstinência).
Felizmente são poucas as medicações usadas na nossa prática clínica que tem esse perfil de causar dependência.
Quais causam dependência?
As classes de medicações usadas na prática psiquiátrica que causam dependência são: os Benzodiazepínicos (Rivotril, Valium, Frontal, Lexotan etc.) e os psicoestimulantes (Ritalina, Concerta, Venvanse, etc.)
Se causam dependência por que nós ainda prescrevemos essas medicações?
Mesmo com o risco de causar dependência, com bom acompanhamento a chance de isso ocorrer é mínima. Principalmente no que diz respeito ao uso de benzodiazepínicos, enquanto o tratamento de primeira linha precisa de um período para dar os resultados esperados, essas medicações tem um efeito rápido de alívio de sintomas que causam grande sofrimento, como insônia, crises de ansiedade ou pânico e agitação psicomotora, neste período de sintomas ainda presentes a atuação dessa medicação é fundamental para o alívio e controle do sofrimento, a medida que a resposta se dá ao tratamento de primeira linha deve ser feito o desmame gradual da medicação sintomática, diminuindo assim a chance de dependência.
A dependência a medicações psiquiátricas também tem tratamento, podendo ser feito o desmame gradativo e acompanhado, substituição por outras medicações com outro perfil.
O mais importante é sempre estar acompanhando com um psiquiatra de sua confiança, que te explique o planejamento terapêutico e a função de cada medicação no tratamento, assim como o que esperar de cada uma delas.
Tente sanar todas as dúvidas que podem levar a não confiança e até abandono do tratamento antes de sair do consultório.